O autor Mário de Andrade, em uma de suas obras mais conhecidas faz inúmeras referencias à temáticas vigentes na época, que já vinha vivendo momentos de instabilidade política. O contexto histórico em que o livro se insere é justamente no fim da República Velha.
A Primeira República Brasileira, chamada comumente de República Velha, foi o período da historia do Brasil que compreendeu a Proclamação da República, em 1889, até a ascensão de Getúlio Vargas em 1930. Esse período possui a seguinte divisão: República da Espada (1889-1894), que ganhou esse nome pelo fato de os governantes serem militares e República do café com leite (1898-1930) que recebeu essa denominação devido ao revezamento no poder de representantes do partido paulista e mineiro.
O livro Macunaíma, foi escrito na década de 20, e esta inserido no período da República do café com leite, justamente quando o país passou a sofrer com a crise e acontecimentos que puseram fim à República Velha, como a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque e com isso a falência da economia cafeeira. Outros episódios foram igualmente marcantes nessa década: a crise política que se seguiu a eleição de Artur Bernardes, em 1924; o descontentamento militar que culminou no levante do Forte de Copacabana que quis impedir a posse de Bernardes; uma nova revolução tenentista de 1924 em São Paulo e a formação da Coluna Prestes.
O governo de Artur Bernardes também foi palco da Semana de Arte Moderna, inaugurando o Modernismo no Brasil.
Esse ciclo da vida política brasileira se encerra 1930, quando o então presidente Washington Luís rompe com o pacto estabelecido na política do café-com-leite ao indicar um candidato paulista à presidência, Júlio Prestes. Esse rompimento fortalece a oposição, organizada na chamada Aliança Liberal que tinha como candidato à presidência Getúlio Vargas e João Pessoa como vice. Devido a fraudes eleitorais Júlio Prestes é eleito causando insatisfação da maioria, inclusive de tenentes. Alguns deles iniciaram uma conspiração para impedir a posse de Prestes.
O estopim do movimento foi o assassinato de João Pessoa. O alto-comando militar do Rio de Janeiro desencadeia o golpe e depondo Washington Luís do poder, empossa de forma provisória Getúlio Vargas, à presidência da República.
Protagonista desses acontecimentos, Mário de Andrade fez o seguinte registro:
"Mil novecentos e trinta... Tudo estourava, políticas, famílias, casais de artistas, estéticas, amizades profundas. O sentido destrutivo e festeiro do movimento modernista já não tinha mais razão de ser, cumprindo o seu talento legítimo. Na rua, o povo amotinado gritava: - Getúlio Vargas!..."
Um trecho do livro Macunaíma nos mostra a opinião do autor sobre o cenário político da época, através de um dos diálogos.
- Meus senhores, a vida dum grande centro urbano com São Paulo já obriga a uma intensidade tal de trabalho que não permite-se mais dentro da magnífica entrosagem de seu progresso siquer a passagem momentânea de seres inócuos. Ergamo-nos todos una você contra os miasmas deletérios que conspurcam o nosso organismo social e já que o Governo cerra os olhos e delapida os cofres da Nação, sejamos nós mesmos os justiceiros...
O autor deixa explicito haver um certo descontentamento popular em relação ao governo, que se preocupava principalmente com seus próprios interesses, deixando claro a sensação de abandono em que a maioria se enquadrava, isso reflete bem o momento em que o pais passava, esse que era um momento transitório, pois o modelo baseado no rodízio de paulistas e mineiros ao poder já mostrava sinais de desgaste.
Referencia Bibliográfica:
ANDRADE, Mário de. Prosa Modernista - Macunaíma. Rio de Janeiro: Editora Agir,2010.
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